Secretaria da Saúde busca abordagem técnica, humanizada, intersetorial, respeitando o indivíduo e o ambiente físico e social em que ele vive |
A oficina, com cerca de 150 participantes, reuniu profissionais de psicologia, enfermagem, medicina, veterinária, supervisores e agentes comunitários de Saúde, técnicos da Divisão de Zoonoses e vigilâncias (Sanitária, Epidemiológica e de Saúde do Trabalhador), além das equipes do Nasf (Núcleo de Apoio a Saúde da Família).
Reprodução Internet: problema existe independente de classe socioeconômica |
A proposta surgiu com o aumento da demanda, observada pelos próprios profissionais. Nos territórios de praticamente todas as unidades de saúde, há registros de acumuladores que colocam em risco a própria segurança, de familiares e vizinhos, envolvendo inclusive a esfera jurídica.
Os profissionais de Marília receberam a secretária municipal da Saúde de Quintana, Andréia Lopes Pereira, a equipe do Nasf e a psicóloga da Secretaria de Desenvolvimento Social daquela localidade. Resguardada a proporção dos municípios, a cidade vizinha tem experiências de sucesso, em função da abordagem assertiva e grande participação do Nasf e comunidade.
“A prática de acumular, na maioria das vezes, é um pedido de socorro. É necessário entender os tipos de acumuladores, para definir a melhor abordagem e provocar a própria pessoa para que ela compreenda que aquele ambiente não está adequado para ela, nem para as pessoas que ela ama e sua comunidade. Nesse processo, vínculos familiares e sociais podem ser reconstruídos. Essa será a maior conquista”, afirma Simone Alves Cotrim Moreira, supervisora do Programa de Saúde Mental.
Carlos Henrique Pereira de Andrade, do Nasf de Quintana: experiência exitosa a partir da articulação entre os setores |
Estudos já identificaram pelo menos três tipos de acumuladores: patológicos, comerciais e culturais. Andréia lembra que, ao entrevistar pessoas que acumulam compulsivamente, é comum observar que a maior parte dos objetos reflete perdas, inseguranças, medos, traumas do passado e distorções da realidade.
Existem ainda “pretextos”, aos quais geralmente estas pessoas recorrem para justificar a atitude. Por isso, é importante a participação de um familiar ou pessoa próxima, para o reconhecimento do apego excessivo.
APEGO A ANIMAIS
Entre os casos atualmente atendidos pela Saúde em Marília estão alguns relacionados a acumuladores de animais. São pessoas que chegam a ter mais de 100 cães ou gatos, vivendo em condições absolutamente inadequadas.
Moradores insensíveis a esse problema, estimulam e até soltam animais nas casas de acumuladores, ampliando o problema. A abordagem é feita mediante um plano de cuidado da Unidade de Saúde, que inclui atenção à saúde física e mental. A resistência pode ser grande e, infelizmente, em muitos casos, a família é omissa.
“É muito importante que as pessoas não estimulem esse comportamento. Porque, na imensa maioria das vezes, quem estimula o acúmulo de animais não apoia e não tem nenhum vínculo social com esse morador. Dessa forma, o estímulo contribui para precarizar ainda mais a situação”, alerta Simone.
A secretária Kátia Ferraz Santana afirma que, por meio dos Nasf e das unidades de saúde, bem como zoonoses, programa de Saúde Mental, atenção básica e vigilâncias (epidemiológica, sanitária e do trabalhador), a pasta está atenta a esta questão. A população pode e deve participar, porém é preciso compreender a complexidade.
“É um problema comum a países desenvolvidos. No mundo todo isso acontece, porque reflete condições da natureza humana. Enquanto Poder Público, temos que intervir e cuidar da saúde dos acumulares. Mas isso precisa ser feito com abordagem técnica, humanizada e intersetorial, respeitando o indivíduo e o ambiente físico e social em que ele vive”, disse a secretária Kátia.
Texto: Carlos Rodrigues
Foto: Júlio César de Carlis
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